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Mesmo que nos créditos finais, clame ter interpretado dramaticamente certos eventos reais ocorridos na América do Sul por ocasião dos conflitos violentos por água, o diretor e roteirista Damian Lee percorre só o caminho da simplificação maniqueísta dos fatos que o inspiraram, ou melhor, “fatos”, a produzir Em busca pela verdade - título irônico caso tenha, assim como eu, buscado insistentemente na internet a que evento genérico, ou eventos, o cineasta refere-se. Entretanto, a impropriedade dessa afirmação sensacionalista não remove da história os méritos na apresentação de uma realidade assustador e mais próxima do que pensávamos, em que o tratamento e distribuição da água nos países mais pobres são privatizados em nome de grandes multinacionais.

Como é o caso da gigante ClearBec, que, para não comprometer o novo contrato bilionário com a África do Sul, coloca panos quentes no massacre ocorrido no Equador, onde a epidemia de tifo provocada pela contaminação das águas força o exército local a exterminar os que tentavam fugir e contar toda a verdade. Só o jovem Renaldo (Devon Bostick) escapa da quarentena para então se suicidar em frente a Morgan (Deborah Kara Unger), uma das herdeiras da ClearBec ao lado de seu ganancioso irmão Bruce (Kim Coates). Sofrendo com uma crise de consciência tardia (e clichê), Morgan contrata o ex-agente de campo da CIA, agora locutor de rádio, marido e pai ausente Jack Begosian (Andy Garcia) para resgatar o dito terrorista ecológico Francisco Francis (Forest Whitaker), que está em posse de provas que comprovam a responsabilidade empresarial da ClearBec nos acontecimentos.

Discutindo temas importantes de forma superficial, Damian Lee desperdiça a narrativa com personagens rasos, embora eu não questione o esforço do elenco em conferir-lhes relevância, diálogos redundantes e mal-escritos (“você está aqui, mas não está aqui“) e uma vontade incompreensível de preterir o fértil cenário político e socioeconômico em prol do thriller genérico de ação a que estamos habituados. Para tanto, basta destacar a transformação de Mia (Eva Longoria) na versão feminina de Rambo, inclusive com uma submetralhadora amarrada a tiracolo, ou como Jack Begosian encarna os atributos de tantos outros agentes relutantes, indestrutíveis e milimetricamente eficientes, nada importando seu tempo de aposentadoria e o fato de que ele não tem mais permissão de sair atirando em quem ele bem entende.

A mediocridade da narrativa também pode ser confirmada na direção de fotografia de Bobby Shore, que aposta no contraste óbvio entre a superexposição cálida nas selvas equatorianas onde Francisco refugia-se e a paleta de tons azuis nos corredores da Clearbec, ou na trilha sonora de Jonathan Goldsmith, que confere acordes de produções televisivas de segunda categoria. Inclusive, os normalmente perdoáveis erros de continuidade aqui surgem grosseiros, e a cena de Jack a bordo de um jipe deselegantemente utiliza imagens distintas no pano de fundo durante a dinâmica plano/contra-plano.

Infelizmente banal e sem um quê de ambição, Em busca pela verdade poderia aproveitar melhor o futuro sangrento que profetiza e a invencível realidade do corporativismo, pois, assim como um representa sul-africano oportunamente frisa “há diversas outras companhias com que a África do Sul pode negociar”. Como a Hidra de Lerna, podem até extirpar a ClearBec, mas sempre surgirão novas empresas ávidas para tomar seu lugar.