Todo mundo que cria um blog sonha em ter seguidores além de pai, mãe e meia dúzia de amigos. Quem consegue o feito de ter milhares de fãs são poucos. Mas uma boa ideia e persistência podem trazer não só popularidade, mas dinheiro. Há quem tenha largado o emprego tradicional para se dedicar apenas ao que começou como uma brincadeira.
Thiago Pasqualotto, um dos criadores do blog de humor "Morri de Sunga Branca"
Os autores de "Morri de Sunga Branca",
surgido em 2009, são Thiago Pasqualotto, 26, que mora em São Paulo, e
Bianca Müller, 28, de Curitiba. A dupla faz sucesso satirizando
celebridades e "subcelebridades", como são conhecidas as personalidades
não tão famosas, mas que fazem de tudo para ser. Mas os números do
"Morri de Sunga Branca" estão longe de ser piada: mais de 135 mil
visualizações de página diárias e cerca de 65 mil visitantes únicos por
dia.
"A forma como tratamos as polêmicas e narramos os barracos dos famosos é
que atrai público. Sai da fofoca e vai para o humor", afirma Thiago
Pasqualotto. "Não temos a receita do bolo, mas com o tempo observamos
que produzir conteúdo autoral de forma criativa e bem-humorada é a
melhor forma de chamar atenção na internet".
Ele se desligou da agência de publicidade onde trabalhava em novembro
do ano passado para se dedicar exclusivamente ao "Morri de Sunga
Branca". Bianca é blogueira em tempo integral há três anos. "Vendemos
publieditorial, banner e fazemos várias parcerias, como aconteceu com a
Globo durante a última edição do 'Big Brother Brasil'", conta
Pasqualotto. E sobre o faturamento? "Prefiro dizer que vivemos muito bem
do blog", diz.
Para quem está começando nessa área, o publicitário aconselha: "Não
crie um blog pensando que vai ficar rico com ele. Isso não acontece com a
maioria dos blogueiros. Escreva sobre o que você gosta. Depois, o que
vier é lucro".
Filipe Oliveira (à esq.) e Eduardo Camargo, criadores de "Diva Depressão"
"Diva Depressão"
Com três a quatro posts diários, com frases sarcásticas sobre temas do
cotidiano ou polêmicos estampadas em fotos preto e branco de
celebridades das antigas (como a atriz Rita Hayworth), "Diva Depressão"
estreou como um página no Facebook em 2012 e hoje tem mais de 700 mil
seguidores e já virou até livro: "Diva Depressão – A Senhora dos Anéis"
(Editora Matrix).
Os pais da ideia são os designers paulistanos Eduardo Camargo, 24,
Filipe Oliveira, 24, e Márcia Corrêa, 25. "Simplesmente aconteceu. O
Filipe teve a iniciativa de criar a página usando algumas frases que
costumávamos falar", conta Eduardo Camargo. "No início, era bem mais uma
mistura de piadas internas, mas acabou caindo na graça do público, que
foi se identificando com o pensamento e o humor irônico e ácido".
O pessoal da "Diva Depressão" tem uma espécie de acervo de piadas e
imagens. São muitas as sugestões dos fãs, na maior parte mulheres na
faixa dos 18 aos 25 anos, mas homens e gente mais velha também
participa.
"Costumamos nos manter originais às nossas ideias, mas eventualmente
ocorre do seguidor ter um humor como o nosso", conta Eduardo Camargo.
"Geralmente, recebemos sugestões que seriam indiretas para alguém
específico. O 'Diva Depressão' é muito utilizado para alfinetar
terceiros", diz ele.
Ser criativo é o conselho para se dar bem na internet, segundo os
autores. "Se a ideia for boa e diferente, ela acabará se propagando por
si só", diz Camargo.
"Hoje Vou Assim"
"Em julho de 2007, meu filho tinha quatro meses e, além da alegria pela
sua chegada, estava vivenciando o luto pela morte do pai dele, dois
meses antes de seu nascimento", recorda-se a blogueira Cris Guerra, 42,
de Belo Horizonte. Ela começou a escrever um blog sobre as memórias do
companheiro para a criança, o "Para Francisco". Dois meses depois, como uma espécie de contraponto, surgiu o "Hoje Vou Assim".
A ideia era simples: registrar todos os dias a roupa que tinha
escolhido para ir trabalhar. "Eu não tinha consciência que estava
criando um blog de moda, o primeiro de looks diários do Brasil", diz a
também publicitária e escritora, que nem frequentava endereços sobre o
assunto na época. "Simplesmente fiz e tive a disciplina de continuar",
conta ela.
"Talvez eu quisesse postar no 'Hoje Vou Assim' uma informação de moda
sem palavras: só imagens da escolha de cada dia, para inspirar. Simples
assim". De início, ela era clicada por amigos ou parentes e, depois,
passou a contar vez ou outra com o auxílio de profissionais. "Para os
dois lados sempre foi interessante, pois, para o fotógrafo, o blog é uma
espécie de vitrine".
O "Hoje Vou Assim" conta atualmente com 300 mil page views e 50 mil
visitantes únicos por mês. Sua criadora escreve crônicas para a revista
Veja BH, tem colunas em duas rádios e ministra palestras sobre moda. "Os
blogs me ajudaram a chegar aqui, mas não são minha atividade
principal", explica.
Para quem pretende estrear no mundo digital, ela manda um recado: "Que
faça com gosto, antes de mais nada. Que tenha um objetivo, atualização
diária e pense antes na qualidade do que está colocando no ar. Dinheiro é
consequência e pode nem vir. Antes de mais nada, o conteúdo tem que ser
relevante. É difícil, mas buscar uma ideia simples e, se possível,
inédita, ajuda muito".
Para conquistar seguidores na internet ou nas redes sociais, ela
acredita que vale investir em interação, relacionamento e
compartilhamento com retorno. "As pessoas não querem só nos ler, elas
querem conversar".
Marcelo Cidral se inspirou em páginas de outros países para criar o "Como Eu Me Sinto Quando..."
"Como Eu Me Sinto Quando..."
O tumblr "Como Eu Me Sinto Quanto..."
que usa gifs (imagens animadas) para fazer rir do cotidiano, tem, em
média, 180 mil visitas diárias e mais de 340 mil seguidores no Facebook.
A sacada veia à tona no ano passado, em um sábado antes da Páscoa,
recorda o publicitário blumenauense Marcelo Cidral, o cérebro por trás
do "Como Eu Me Sinto Quando...".
"Já sabia que a fórmula tinha feito sucesso fora do país, mas jamais
imaginei que ia conseguir 'viralizar' tão rápido", diz Cidral, 25, que
mora em São Paulo.
Seu público é variado, mas a maior parte é formada por jovens de 18 a
15 anos e do sexo feminino. Vexames, dietas, insetos e comida estão
entre os campeões de audiência do tumblr. Mas ele lista outros
populares, como os posts com imagens de bichos, cenas recentes de novela
ou programas de TV, além clipes musicais que estão fazendo sucesso.
O rendimento mensal proveniente do "Como Eu me Sinto Quando..." (ou
simplesmente "CEMSQ") pode passar de R$ 20 mil reais, segundo Cidral.
"Trabalho, mas hoje em dia boa parte da minha renda vem do tumblr". Para
ter destaque na internet, o publicitário recomenda procurar algo a
mais. "Blogs existem aos montes. É difícil imaginar alguma coisa muito
revolucionária. Então, o ideal é descobrir uma fórmula ou uma linguagem
que funciona e adaptar para você".
O CEMSQ, por exemplo, segue um modelo que já era usado no tumblr mundo
afora. O diferencial foi contextualizar esse padrão para o Brasil,
segundo Cidral, além de agregar conteúdo interativo e manter-se
relevante usando gifs associados a situações atuais, como fatos da
política brasileira ou das novelas. Outra sugestão dele é explorar ao
máximo mídias e formatos em cada rede social.
"O CEMSQ é um tumblr, mas gera conteúdo exclusivo para o Facebook e
para o Twitter, também", ensina. "Não existe um segredo para viralizar.
Se o seu conteúdo é bacana, o processo deve ser natural". E ele conclui:
"Não fique forçando a barra, puxando o saco das pessoas, fazendo 300
mil posts por dia na esperança de que algum dê certo. Isso cansa a
imagem do seu blog e, a longo prazo, a sua também".
Bruno Rocha trabalha na TV Globo, mas vive na web o personagem Hugo Gloss
"Hugo Gloss"
Bruno Rocha, 27, costumava fazer imitações do personagem Christian Pior, interpretado pelo ator Evandro Santo no programa "Pânico",
para seus amigos quando ainda residia em Brasília. Ele foi morar fora e
a brincadeira continuou no Twitter. "O perfil cresceu e acabou dando
confusão, porque as pessoas achavam que estavam falando com o ator que
fazia o Christian", diz Rocha. Daí veio a necessidade de criar o "Hugo Gloss".
"Virou uma coisa minha, com personalidade própria", conta. Seu perfil
no microblog tem um milhão de seguidores –no Instragram são cerca de 210
mil e no Facebook mais de 150 mil. Rocha também tem um blog, onde faz
um bem-bolado de tudo o que publica nas redes sociais. Ele atribui o
sucesso de seus tuítes à espontaneidade.
"As pessoas costumam me dizer que falo o que elas têm vontade de dizer,
mas não sabem como ou não têm coragem. Outras afirmam que sou mais
rápido do que elas em traduzir um pensamento", relata Rocha, que é
redator do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo. "Não tenho do que
reclamar sobre a vida do Gloss, mas eu amo meu trabalho na TV Globo. Amo
televisão e sinto muito prazer trabalhando no 'Caldeirão'. Para mim, as
duas coisas se completam".
O público de Hugo Gloss na internet é de mulheres de 18 a 30 anos.
"Acho que falo muito para elas. Muito mais até do que para gays. E a
maioria me entende. Somos amigos", diz.
Para atrair os holofotes dos internautas, Rocha crê que é preciso se
ater a temas que você curte, de que entenda e não inventar um perfil
baseado no que está bombando sem se identificar com o assunto.
"Não criei nada disso para que fosse uma fonte de renda, embora tenha
se tornado uma. Faço tudo porque gosto e quero. Parando para pensar,
acho que os melhores blogs e perfis foram feitos sem qualquer intenção
de sucesso, por puro prazer dos seus criadores. Talvez esse seja o maior
segredo", diz ele.
Fonte: UOL