Já, sim! O fenômeno só rolou uma única vez, mas foi uma nevasca bem no
coração do deserto. Tudo ocorreu em 18 de fevereiro de 1979, no sul da
Argélia. Existem poucos relatos científicos sobre o fato, mas é provável
que a nevasca tenha acontecido durante a noite, quando a temperatura no
deserto pode cair abaixo de 0 ºC.
A tempestade de neve durou apenas
meia hora e não deixou vestígios, pois a neve derreteu em poucas horas.
Os cientistas arriscam que a principal explicação para a nevasca no
Saara é a baixíssima umidade do local. Isso ocorre porque as montanhas
do Atlas, ao norte do Saara, "emparedam" o deserto, impedindo a entrada
de ar úmido.
Passam apenas algumas massas de ar seco, que em condições
raras podem fazer chover - ou, em condições ainda mais raras, fazer
nevar. "Com baixa umidade, a água que cai das nuvens tende a passar
direto do vapor para o estado sólido porque a temperatura da superfície
das gotículas diminui, formando cristais de neve.
É a mesma coisa que
acontece quando saímos de uma piscina num dia com ar seco: sentimos frio
porque a superfície das gotículas de água esfria", afirma o pesquisador
Andrew Heymsfield, da Corporação Universitária para a Pesquisa
Atmosférica dos Estados Unidos. Só que não adiantaria nada ter ar seco e
uma temperatura superquente - nesse caso, os cristais de gelo
derreteriam.
Por isso que a tempestade deve ter rolado à noite - o fato é
que, para rolar uma nevasca, a temperatura não precisa estar abaixo de
zero. "Existem muitos registros de neve a até 12 ºC, e o Saara pode
perfeitamente ter atingido essa temperatura durante a noite", diz
Andrew. Se a neve é um fenômeno raro em desertos quentes, não é tão
difícil de acontecer nos desertos frios. Um exemplo é o deserto de
Atacama, no Chile, que tem uma camada de neve que nunca chega a derreter
em suas partes mais altas.