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A Copa das Confederações não é um teste apenas para os jogadores. Para a organização, diversos aspectos da competição que se inicia no próximo dia 15 servem de parâmetro para a Copa do Mundo do ano que vem. Um dos mais importantes, o sistema antidoping, deve dar passos largos rumo à utilização do Passaporte Biológico, uma das promessas da Fifa que pode dificultar ainda mais a vida de quem procura, em substâncias proibidas, vantagem dentro de campo.

A ideia da Fifa, anunciada em fevereiro, após reunião com a Agência Mundial Antidoping (Wada, sigla para o nome em inglês), é traçar um perfil biológico dos jogadores que participarem da próxima Copa do Mundo, no Rio de Janeiro. Na ficha de cada atleta, a entidade máxima do futebol pretende apresentar as variações dos níveis de hormônios e das taxas sanguíneas ao longo de um período extenso, antes da competição e durante o evento. Os testes para essa aplicação, que começaram nos Mundiais de Clubes de 2011 e 2012, devem entrar em sua fase final nesta Copa das Confederações.

O doping

A Copa das Confederações nunca registrou o uso de qualquer substância proibida entre seus participantes. Na Copa do Mundo, por outro lado, são conhecidos os casos do escocês Willie Johnston (Argentina, 1978) e do argentino Diego Maradona (Estados Unidos, 1994).

Muito antes do hermano, atletas dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, entre 776 a.C e 393 d.C., já buscavam substâncias para incrementar sua valência física. Naquela época, usavam chás e cogumelos. Mas a primeira substância realmente eficaz foi encontrada bem depois: no fim do século 19, ciclistas ingeriram um vinho com cocaína, criado pelo farmacêutico italiano Angelo Mariani.

Conforme relata Eduardo De Rose, médico do Comitê Olímpico Brasileiro e referência mundial no tema, a conexão com o esporte mundial originou-se nos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim, quando Adolf Hitler deu início à politização da disputa. Foi nessa mesma época que atletas vencedores começaram a promover produtos.

“Esses dois fatos modificaram a filosofia do Barão Pierre de Coubertin de que, nos Jogos Olímpicos, o importante é participar, e passou a existir uma competição em que o importante era vencer, e vencer a qualquer custo”, pondera.

Com larga experiência em controle de doping em eventos esportivos, De Rose menciona, entre os episódios relevantes de sua carreira, aqueles que envolveram os atletas Ben Johnson (Seul, 1988), Javier Sotomayor (Winnipeg, 1999) e Rebeca Gusmão (Rio, 2007). Longe de sua vista, o caso do ciclista Lance Armstrong, que confessou ter conquistado sete títulos da Volta da França sob efeito de doping, também merece atenção.

Testes

Os primeiros testes antidoping foram realizados nos Jogos Olímpicos do México (1968). No futebol brasileiro, passaram a ocorrer quatro anos depois. Conforme De Rose, o processo previa apenas o exame de urina, com equipamento primitivo, em laboratórios analíticos de reduzidas possibilidades. A lista de medicamentos interditados era mínima: praticamente apenas estimulantes e narcóticos analgésicos.

Hoje, a lista abrange medicamentos de mercado e substâncias de fora dele. “Os laboratórios são de altíssimo nível técnico e capazes de evidenciar quantidades mínimas, e os equipamentos de toma de amostra são padronizados”, explica o médico. Outra evolução é a exigência de normas ISO e a realização também de exames de sangue.

Por outro lado, também evoluíram as tentativas de mascarar o uso de substâncias proibidas, gerando uma “indústria do doping”. “Mas a capacidade de reação da luta contra a dopagem aumentou muito”, considera. “O que demorava 25 anos para ser evidenciado na década de 70, como os anabólicos esteroides, hoje leva no máximo três semanas”, completa.

Futebol

No futebol brasileiro, as estatísticas mostram uma predominância do uso de estimulantes, diuréticos e cannabis (maconha) entre os casos de doping.

Conforme o médico, os estimulantes aumentam os batimentos cardíacos, a pressão arterial e reduzem ou eliminam a sensação de fadiga. Por sua vez, os diuréticos reduzem o peso pela eliminação de água e podem mascarar em urinas de baixa densidade. Já o uso de outras substâncias proibidas, como a maconha, pode ser a porta de entrada de narcóticos fortes, além de afetar o sistema circulatório, diminuir a coordenação motora e causar perda de memória.

Nesta edição da Copa das Confederações, o especialista não participará do comitê antidoping. Apesar disso, tem a expectativa de uso do prometido perfil hematológico, que permite a evidência de manipulações sanguíneas mesmo sem determinar substância ou método proibido. “Creio que este é, também, o único diferencial em termos do controle do que foi feito na África do Sul (Copa de 2010)”, diz.

Passo a passo do exame

O antidoping inicia-se pela seleção do atleta por posição, sorteio ou indicação, antes do final do evento. Ao término, o atleta é notificado e acompanhado até a sala de controle. Segundo De Rose, a medida pretende evitar manipulações da urina.

Para o teste de sangue, uma amostra da veia cubital é tomada de imediato. Na estação de controle, há uma sala de espera com líquidos para reidratação. Quando há desejo de urinar, o atleta passa à sala de toma de amostras, onde seleciona um copo coletor e é acompanhado por um oficial até o banheiro. “Pelo menos 90 centímetros cúbicos são coletados”, explica.

Em seguida, o atleta retorna à sala para selecionar uma caixa que contém dois frascos. Assim, ele divide sua urina entre eles antes de cerrá-los, com um mecanismo que não permite a abertura até o laboratório. Então, preenche e assina um formulário de controle, onde coloca o número dos seus frascos - a única forma de identificá-lo futuramente. Os frascos são enviados ao laboratório em uma maleta cerrada, com um selo codificado.



No laboratório, a amostra é dividida em cotas e passa por diversos métodos de análise. Se uma substância proibida é identificada, o resultado analítico adverso é informado à comissão médica do evento. Nesse caso, chama-se o atleta, que tem a oportunidade de se defender. É permitida uma segunda análise, desta vez do frasco B, o que ocorre na presença do atleta e de seus peritos. Trata-se da contraprova.


“Essa contraprova, antes obrigatória, é agora feita somente em caso de o atleta ter alguma dúvida, mas não interrompe o processo legal feito para evidenciar uma violação da regra antidoping”, conclui De Rose.

Fonte: Terra