Na década da disco music, as casas noturnas começavam a apresentar algumas características típicas de uma balada até hoje, como o forte show de luzes dando destaque à pista e a presença do DJ comandando o som. Mas o que marcou o período foi a mentalidade do público.
O hedonismo (a busca pelo prazer) era a arma dos jovens contra a caretice e a repressão do regime militar. Sexo, drogas e disco e soul music embalavam as noites. Nas boates mais populares, jovens de todas as classes sociais, negros e brancos, gays e héteros se reuniam para dançar como se não houvesse amanhã.
SOLTE SUAS FERAS
Luz, som, cores, drogas: tudo motivava o público a se jogar na pista.
Para beber com estilo
A cuba libre, sucesso nos anos 60, ainda era a bebida preferida de
muita gente. Disputava espaço nos balcões com uísque, vodca e cerveja.
Os mais refinados apostavam no dry martíni, famoso graças ao espião 007:
três doses de gim, um pouco de vermute e gelo, batido na coqueteleira e
decorado com a clássica azeitona no palito.
Um show à parte
Extravasar era a palavra-chave: a galera usava muita cor, brilho e
materiais sintéticos. O lurex (um tecido com fios metálicos) aparecia em
blusas, macacões e vestidos. No look das garotas, maquiagem forte, meia
arrastão e plataformas altíssimas eram essenciais. Elas se inspiravam
na novela Dancing Days, enquanto os garotos copiavam Os Embalos de
Sábado à Noite.
Solta o som!
A pista se consagrava como a grande atração. Não podia parar jamais!
Por causa disso, essa época vê surgir a figura do DJ (abreviação de
"disc jockey"), que comandava o som. Ele tinha área de destaque no salão
e interagia com o público. O uso de dois toca-discos foi uma grande
revolução, mas poucos avançaram nas mixagens próprias.
Os donos da noite
A exigência de infraestrutura forçou a profissionalização do ramo.
Baladas começaram a virar grandes negócios e consagravam os "reis da
noite" - empresários como Ricardo Amaral, dono da Hippopotamus (no Rio) e
da Papagaio (no Rio e em Sampa). Outras casas que marcaram a época
foram a paulistana Banana Power e a fluminense Dancin¿ Days Discotheque,
que até virou nome de novela.
Só o pó
Ainda rolavam drogas psicodélicas, como maconha e LSD, herdadas da onda
hippie. Mas a noite tinha uma nova musa: a cocaína, que mantinha a
galera fervendo na pista. Drogar-se não era mais um ato de contestação,
como na década anterior. O pó era uma droga cara e virou simplesmente
mais um bem de consumo associado a glamour e status.
Liberdade sexual
Se, nos anos 60, ainda reinava o pudor, na década seguinte todos
queriam curtir. Beijar já não exigia tanta intimidade. A dança servia
para aproximar os casais, que depois procuravam cantos escuros para uns
amassos mais quentes. Alguns esticavam a noite em um lugar mais
reservado. Os ousados já partiam para os "finalmentes" no banheiro da
boate.
Curiosidades:
- O globo espelhado, os neons e a luz estroboscópica ajudavam a deixar o ambiente mais frenético;
- As discotecas cobravam a entrada e algumas já exigiam a famigerada "consumação mínima";
- A falta de mesas e assentos era proposital: forçava as pessoas a circular ou se concentrar na pista de dança;
- Quem podia ostentava uma invejável cabeleira black power, um sinal de
orgulho racial, vindo da luta pelos direitos civis no fim dos anos 60.
TOP 5 DAS PISTAS
O que bombava na época
"Dancin' Days", As Frenéticas;
"Stayin¿ Alive", Bee Gees;
"I Will Survive", Gloria Gaynor;
"That's the Way (I Like It)", KC and the Sunshine Band;
"Sossego", Tim Maia.
FONTES: Leiloca, cantora do grupo Frenéticas, e
Rafael Rodrigues, bar consultant, livros Todo DJ Já Sambou, de Claudia
Assef, Noites Tropicais, de Nelson Motta, Almanaque Anos 70, de Ana
Maria Bahiana, e Culturas da Rebeldia: A Juventude em Questão, de Paulo
Sérgio do Carmo.