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Capturado algumas vezes, auxiliar técnico de Tite deixou espionagem
25 de julho de 2011 09h03
 

Um espião em início de carreira não precisa ter bons disfarces. Só com cautela e um radinho para ouvir música, o auxiliar técnico de Tite assistiu a treinos de diversos adversários durante toda a Copa do Brasil de 2001, quando estava no Grêmio. A única missão em que Cleber Xavier falhou foi justamente na véspera da decisão contra o Corinthians, dentro do Parque São Jorge.

Os dois times haviam empatado por 2 a 2, em Porto Alegre, e voltariam a se enfrentar em 17 de junho, no Morumbi. Cleber chegou a São Paulo antes da delegação e, a um dia do jogo, atendeu pedido de Tite para acompanhar a atividade de Vanderlei Luxemburgo. "Pedi que desse uma olhada, caso o treino fosse aberto. Se fechassem, não teria jeito", lembra o treinador, rindo.

A preocupação era não ser detectado por dois corintianos: o zagueiro Scheidt e o atacante Paulo Nunes, com quem ele já havia trabalhado no Grêmio. De longe, sentado sozinho na arquibancada atrás do gol, o assistente queria identificar quem jogaria no lugar de André Luiz - lateral esquerdo que teve boa atuação improvisado de volante, na primeira partida, e estava suspenso. O eleito por Luxemburgo para a vaga seria Marcos Senna, que mais tarde se naturalizou espanhol.

"Mesmo que tu olhe o mínimo do treino, consegue entender. O Tite é muito detalhista para as coisas", justifica Cleber, que se tornou auxiliar no início daquele ano, quando o treinador chegou ao Grêmio como campeão gaúcho pelo Caxias. "A diretoria pediu que ele não levasse auxiliar, que eu, que estava havia seis anos nas divisões de base do clube, seria o auxiliar dele".

Já munido da informação que precisava, o assistente foi surpreendido no momento em que um radialista gaúcho fez boletim em frente ao banco de reservas do Corinthians, anunciando que o trabalho estava sendo visto por um membro da comissão técnica gremista. Imediatamente, Luxemburgo interrompeu a atividade e pediu que a segurança do clube o retirasse de lá."Eles me levaram para trás do Parque São Jorge, pensei que fossem fazer alguma sacanagem. Fiz uma encenação para que os jornalistas ficassem atentos a qualquer coisa. Mas mostrei o rádio e o telefone, e me liberaram sem problema nenhum. Mas queriam que eu saísse pelo portão onde estava a torcida do Corinthians. Eu disse que não, que iria sair por onde tinha entrado, mas eles não quiseram. Então eu saí correndo, pulei o muro e fui embora pela rua da frente", diverte-se o auxiliar.

Ao chegar, de táxi, perto do hotel onde o time do Grêmio ficaria hospedado, na Rua Augusta, ele avistou toda a imprensa o esperando para repercurtir o caso. "Entrei no cinema e assisti a um filme. Francês, por sinal, daqueles filmes ""cabeça"" (risos). Fiquei lá e só saí à noite, quando a delegação chegou. O presidente me chamou, expliquei o que tinha acontecido e o jornalista foi retirado da concentração", acrescenta Cleber.

A espionagem irritou os corintianos - especialmente Luxemburgo - e funcionou. No dia seguinte, o Grêmio passeou diante de 80 mil pessoas, no Morumbi, e foi campeão: 3 a 1. "Quando voltamos para Porto Alegre, no desfile do carro do Corpo de Bombeiros, a multidão gremista metia a mão no olho e gritava ""espião, espião"". Com a vitória, aquilo ganhou muita popularidade", recorda.

O destino levou o popular assistente a reencontrar os dois seguranças que o capturaram, em 2004, quando Tite foi contratado pelo Corinthians. "Ele (Cleber) olhava para o lado e dizia que eles iam catá-lo novamente", diz Tite. "Eram o Cezar e o Kojac, os seguranças. Mas fui bem recebido, eles me trataram muito bem, nós ficamos amigos. Entendo que o único deslize deles, na época, foi terem me colocado para sair no meio da torcida do Corinthians", emenda Cleber.

Hoje em dia, dez anos depois do início da parceria de sucesso com Tite, o assistente analisa os rivais somente à distância, por meio de vídeos. "Dei mais uma espionadinha no Vasco, em 2005, eles me descobriram também, e aí eu nunca mais fui. É que subi de posto, virei primeiro auxiliar (risos), e agora posso ficar mais tranquilo", conclui, sem disfarçar o alívio pela promoção.

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