28 de setembro de 2011 • 13h41 • atualizado às 14h03
A Escola Estadual Padre Réus, em Porto Alegre (RS), conseguiu acabar com o vandalismo e casos de bullying com a conscientização dos alunos
Foto: Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
Faz cinco anos que a direção da Escola Estadual Padre Réus, em Porto Alegre (RS), não precisa pintar os muros da escola e muito menos investir na recuperação de mobiliário como mesas, cadeiras e quadros negros. Depois da implementação do projeto Escola Sem Violência, em 2005, os índices de vandalismo e casos de bullying caíram praticamente a zero. Em meio a um cenário em que muitos colégios públicos sofrem com a falta de infraestrutura e convivem com a violência, a escola gaúcha se tornou referência na caminhada por uma instituição mais limpa e segura.
Diretor da instituição desde 2004, Ruy Guimarães lembra o primeiro dia na escola: "os muros eram pichados e a maioria dos equipamentos, quebrados. Começamos aquele ano com a falta de mais ou menos 200 cadeiras e mesas", lembra. Ruy arregaçou as mangas e traçou um plano pedagógico para reverter as depredações que haviam virado tradição no colégio da zona sul da capital gaúcha. "O primeiro momento foi de prevenção. Pintamos toda a escola e compramos novos materiais", diz. O total do orçamento, somente em consertos, foi de R$ 20 mil.
Porém, o diretor sabia que as paredes limpas e as classes inteiras não durariam muito tempo se os alunos não fossem conscientizados. "Chamei pais e alunos para uma reunião. Primeiro mostrei as fotos de como estava a escola antes, toda destruída. Depois, pedi para que notassem as mudanças nas instalações. Todos admitiram que preferiam estudar em um local limpo", conta. Então, a combinação feita entre alunos e professores foi clara: "Estragou? Paga o conserto".
A maior motivação para os estudantes foi o ginásio de esportes. "O local estava fechado havia dois anos. Eles não tinham onde jogar bola nem onde ter aula de educação física. Prometi que, se no ano seguinte não precisássemos gastar com consertos, iríamos reverter este dinheiro para o ginásio". A promessa foi cumprida dos dois lados. O diretor investiu na quadra esportiva, e os estudantes já estão há cinco anos sem pichar as paredes.
Trabalho pedagógico interdisciplinar mudou atitudes
Apesar de ter funcionado no primeiro ano, Guimarães sabia que precisava atacar outros problemas vistos como culturais. "A gente precisava trabalhar o conceito de violência e vandalismo. As atitudes precisavam mudar não pela quadra esportiva, mas por todo o ambiente escolar".
Foi assim que surgiu o projeto Escola Sem Violência, aplicado a partir de 2005, trabalhando conceitos de violência e bullying dentro de todas as disciplinas. Mas, ao contrário de investir no projeto durante um ano ou dois, os professores viram a necessidade de torná-lo permanente. "O aluno entra na escola no 1º ano do ensino médio e sai dali dois anos. Se ele passar esses três anos trabalhando em coisas como respeito ao próximo e ao patrimônio público, a atitude dele vai de fato mudar", fala.
Por isso, todos os professores intercalam o ensinamento de conteúdos curriculares com atividades reflexivas, mas eficazes. Nas aulas de sociologia, por exemplo, se estuda a importância da preservação do patrimônio histórico. Depois, se arrecada uma verba com a venda de rifas para que escola e alunos decidam o que vão comprar para melhorar o colégio. "Uma turma reformou o jardim, outra investiu em ventiladores", conta o diretor.
Outro exemplo são as aulas de filosofia do educador Ildo Vilarinho. Investindo na autoimagem como a melhor percepção de si mesmo, o professor decidiu abordar o conceito de bullying na sala de aula. "Primeiro nós trabalhamos a diferença entre violência e bullying. Depois partimos para a prática", conta. Em grupos, os alunos discutem casos de bullying que sofreram, que ficaram sabendo ou que leram na internet. Depois, montam uma peça teatral que mostre a história da vítima da violência escolar e do agressor. "Eu filmo as apresentações e nós vemos juntos no encontro seguinte", explica Vilarinho.
Por meio das gravações, os estudantes conseguem perceber as consequências que um caso de bullying pode acarretar na vida de uma pessoa. "A filmagem inclusive capta quem estava conversando durante a apresentação do outro e atrapalhando a turma. Discutimos respeito também", diz.
O resultado de um trabalho que é inserido no dia a dia do aluno é visto em números. "Eu brincava que o Padre Réus tinha, em média, uma briga por ano. De alguns anos, para cá não temos tido nenhuma", comemora Guimarães.
"Os alunos novos vão "na onda" dos mais velhos", diz aluno
Matheus Alegria entrou na Escola Padre Réus quando tinha 14 anos, em 2009. Durante o Ensino Fundamental, o adolescente, hoje com 16, frequentou outra escola pública de Porto Alegre. "Eu notei a diferença na primeira semana de aula. Aqui todo mundo é amigo, não tem essa história de panelinha", afirma.
O aluno começou a trabalhar conceitos de respeito já no primeiro ano de escola, mas afirma que a atitude dos outros estudantes é o que mais influencia. "Eu vejo que os novos alunos acabam indo na onda dos mais velhos, que são contra a violência. Então todo mundo acaba tendo as mesmas atitudes", diz, garantindo que nunca presenciou um caso de bullying nos corredores da escola.
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